Pandemia de coronavírus afeta saúde mental infantil; veja quando ligar o sinal de alerta

A pandemia de Coronavírus, além dos problemas na saúde física, deixa um legado de abalos na saúde mental. Um dos públicos fragilizados no período foram as crianças, que perderam o convívio tanto com familiares, quanto com outras crianças da mesma idade, seja entre amigos ou na escola. Alguns dos sintomas que têm aparecido são aumento de agressividade, impulsividade e compulsão alimentar.

            Mesmo com a volta gradual do funcionamento das atividades, o estado considerado “normal” está longe de acontecer – afinal, a máscara será nossa amiga por algum tempo e reunião de grandes quantidades de pessoas parece distante. E, por isso, é importante que pais e responsáveis fiquem atentos às mudanças de comportamento, que podem ser um sinal de alerta.

Uns dos grandes aliados no momento são os psicólogos, que buscam dar suporte nesta fase de incertezas.

            O primeiro questionamento é de quando procurar ajuda, e a resposta é particular a cada realidade. Mas vale a ressalva de que é necessário dar atenção, evitando agravamento de casos. Cabe aos pais observarem o comportamento da criança e analisarem o que foge ao normal que apresentava: por exemplo, se está mais calada, agressiva, reservada, irritada, impaciente ou ansiosa. O primeiro passo é tentar uma via de diálogo, fazer uma escuta de qualidade e procurar entender a situação, ofertando ferramentas para que se consiga lidar com o problema.

Caso não exista esta abertura, o papel do psicólogo é usar múltiplos recursos na abordagem da criança e compreender se existe ou não um problema. Com um profissional é possível evitar a piora de situações e impactos negativos em sua vida. A psicóloga Bruna Fillus contextualiza e relembra que as crianças ainda estão criando sua personalidade e aprendendo a interagir com o Mundo, e que, portanto, situações que para um adulto teriam pouco ou nenhum impacto podem ser determinantes em suas vidas.

“É preciso entender que às vezes para a gente, como adultos, temos outros meios de lidar com as situações; as crianças ainda estão desenvolvendo”, diz. Também, as consequências do confinamento podem estar acontecendo neste momento ou, também, aparecerem ao longo do tempo. A ajuda profissional consegue mensurar este impacto e preservar de consequências. O papel do psicólogo é o de ressignificar.

A partir de 2 semanas de comportamento repetitivo, já é necessário ligar o sinal de alerta, sentar e conversar com o filho. Se não for possível solucionar sozinho e a criança não se expressa, agindo por birra ou compensação, é importante pedir ajuda para que não piore ou aumente. Pode ser que ainda que a questão não seja trabalhada a fase passe, mas não porque necessariamente esteja resolvida, gerando impactos no futuro.

Contexto da pandemia

            Se ainda hoje é difícil saber quais serão os desdobramentos e comportamento do vírus, em março de 2020 o cenário era de ainda mais incertezas. No início, sem esta dimensão, esperou-se que seria um processo rápido. E cá estamos nós, 1 ano e meio depois, cada vez mais conscientes destas incertezas.

            Com isso, as escolas demoraram para se inserirem no online e remoto. Logo, as crianças ficaram por um período sem convivência (além do núcleo familiar) e escola, além de perderem sua rotina. O uso de telas que era majoritariamente para jogos, brincadeiras e diversão, passa a ser usado no contexto de aprendizagem e convivência. Com isso, os limites ficaram embaçados.

            A Psicóloga Bruna exemplifica que “se tornou chato, com adultos contraditórios com as crianças, até então era: larga esse computador, sai deste celular e vai estudar. E agora abrimos o computador para estudar”. A casa virou o ambiente para tudo, o online a porta para o Mundo e a convivência com pais e responsáveis se intensificou.

             Sem horários para comer, estudar, confinados. Uma das fugas foi a comida. Sem se expressar e meios de interação, os níveis de agressividade aumentaram. Não tendo como ampliar seu ambiente social, a ansiedade aparece. Onde gastar a energia do esporte e das atividades extracurriculares? Questões como essas se tornaram presentes, uma preocupação para os pais, e devem continuar, mesmo com a retomada gradual das rotinas. Bruna lembra que os efeitos serão sentidos e percebidos ao longo do tempo, já que cada indivíduo reage e interage de uma maneira.

Fonte: Psicóloga Bruna Fillus, CRP 08/25902