Pesquisa com probióticos pode ajudar em doenças como Covid-19 e tuberculose

Se o Universo é composto de milhões de estrelas desconhecidas, o que falar sobre nosso próprio intestino? Ele contém um universo de bactérias, talvez tão grande e desconhecidas quanto. Pensando nisso, tem muito cientista por aqui se debruçando em como melhorar com probióticos a qualidade das bactérias no organismo de cada indivíduo para tratamento de diversas doenças. 

            Em função da pandemia de coronavírus, uma parte de uma pesquisa multidisciplinar da Universidade Estadual de Ponta Grossa se debruça em entender como os probióticos podem atuar nos pacientes internados por Covid-19. Isto por que foi observada uma possível correlação do agravamento da doença com baixos índices de cálcio nestes casos.

Participam desta pesquisa 15 cientistas da nutrição, medicina, odontologia, enfermagem, biologia e farmácia. Com autorização da família ou do paciente, são administrados probióticos por 15 dias, visando restabelecer o microbioma intestinal saudável. O composto utilizado é uma combinação de bactérias, formulado a partir de dados disponíveis na literatura.

O grupo trabalha com 60 pacientes há 10 meses, sendo que a pesquisa continua até o final de 2021. O projeto é desenvolvido pela Universidade Estadual de Ponta Grossa junto ao Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais. Tem apoio da Fundação Araucária e Ministério Público Federal.

Como surgiu a ideia da pesquisa

A partir de mineração de dados já publicados, percebeu-se uma falta de cálcio nos pacientes de internamentos. Um dos pesquisadores viu na Sars-Cov (da família Covid) análises que pudessem interligar casos graves e baixo cálcio. Foi observada correlação relativamente alta entre rotas de sinalização e severidade de Covid.

O cálcio é um sinalizador, que está envolvido em diversos processos no corpo humano e por isso, é importante. A partir disto começaram a estudar esta relação dele com o vírus, buscando entender como ela funciona e como é possível trabalhá-la visando um tratamento para a doença.

Um dos professores a frente da pesquisa é Prof. Dr. Marcos Pileggi. Ele conta que seu Mundo são as bactérias e que hoje se debruça em entender como as bactérias conversam entre si e interagem com o restante do organismo. Para isso, atua em diferentes pesquisas – dentre elas a de Covid-19 -, mas sempre pensando nas nossas amigas bactérias, seu microbioma e nos probióticos.

Um objetivo maior é estudá-los para desenvolver boas combinações para determinadas condições de doenças, como autismo, Alzheimer, tuberculose e influenza, tornando-os acessíveis para toda a população. Afinal, podem ser eficientes em vários perfis de bactérias.

“Um microbioma saudável leva à uma vida mais saudável. Percebemos que a presença do cálcio realmente é importante no caso da pesquisa com Covid, e estamos  na fase de levantamento e análise de dados, para entender como os probióticos podem melhorar a situação”, explica o Prof. Marcos.

O que são Probióticos

O Prof. Marcos se concentra nas bactérias que vivem naturalmente no estômago e intestino e que são responsáveis por uma série de funções, visando a homeostase (que é a regulação do sistema intestinal).

Sabe-se que todo microbioma (já que é formado por muitas variedades de bactérias) intestinal consegue mandar sinalizações químicas que controlam uma série de comportamentos no indivíduo.

O que mais se conhece é a relação dos probióticos com o sistema imunológico, por isso o estudo deles refletem na imunidade da população mundial. Eles nada mais são que compostos de bactérias, formulados para recompor o microbioma daquele indivíduo, reestabelecendo um espaço mais saudável. O microbioma é impactado por tudo: como e quando você se alimenta, a qualidade da comida, os remédios que toma. Se estiver desregulado, afeta outras áreas, como é o caso do baixo cálcio influenciando severidade de Covid-19.

Para o probiótico formulado para a pesquisa de Covid-19 foram selecionadas 20 espécies diferentes de bactérias. Cada uma foi escolhida por suas moléculas que podem alterar o padrão das bactérias no microbioma instestinal, do sistema imunológico, da absorção de cálcio e bactérias oportunistas (resistência de antibióticos).

Fonte: Prof. Dr. Marcos Pileggi, Departamento de Biologia Estrutural, Molecular e Genética da Universidade Estadual de Ponta Grossa