Ectopia: condição conhecida como “ferida” no útero é mais normal do que você pensa

Informação é uma das armas em busca de saúde. E para desmistificar o que são as popularmente conhecidas “feridinhas” no colo do útero, é preciso que você saiba que nem feridas elas são, muito menos doença. A ectopia – nome da condição – é comum nas mulheres e aparece devido ao aumento de hormônios no organismo.

            Por isso, a depender da época da vida, são presença certa (em função de maiores quantidades de hormônio estrogênio), em especial entre adolescentes e grávidas. Tirando o fluxo hormonal natural, quem faz uso de anticoncepcionais também está mais sujeito. Outro fator de risco é o tabagismo.

Para desmistificar → Quando falamos em ferida, o que vem à mente é algo que sangra, tem pus e casca. E mais, uma ferida aparece por ter se machucado, certo? Daí já fica a pulga atrás da orelha: foi com o absorvente interno? Durante a relação sexual? Por isso é importante entender que o nome que ficou popular não condiz com a realidade da ectopia.

            A ectopia é uma exteriorização da camada interna do útero. A médica ginecologista Maria Tereza Portela usa a analogia do lábio para explicar. A parte interna e externa tem texturas diferentes, dentro com mucosa e por fora uma pele seca. A condição seria como um incômodo que eclode do interno até o externo.

Ou seja, pensando no colo do útero, é uma pele que faz eversão em direção externa ao canal. E este epitélio fica mais suscetível e exposto, tanto ao meio ácido da vagina, bactérias do próprio organismo, sangramento durante o ato sexual, quanto a outras doenças.

Como descobrir e o que fazer

A ectopia é assintomática e a detecção é feita visualmente, na hora da coleta do preventivo (no exame especular). Um exame mais preciso é a colposcopia, usado quando se investiga outras doenças.

Por ser uma condição relativamente normal, não necessariamente é preciso alguma ação. A ação vai depender do comportamento, necessidade e disposição da mulher. Um dos fatores de risco que motivam o tratamento são muitos parceiros sexuais, quando há exposição a doenças sexualmente transmissíveis. Estudos apontam que mesmo mulheres com a condição não têm maior tendência ao câncer de colo de útero, a não ser que tenham sido expostas ao HPV, que é uma destas doenças.

“A ectopia, por si só, não faz nada sozinha. Precisa de outros agentes atuando para se tornar um problema. Somos individualizados, cada caso é um caso e o curso de tratamento depende da sensibilidade do profissional e postura do paciente”, explica Maria Tereza.

Inclusive, incômodos como aumento no volume de muco e sangramentos não estão diretamente relacionados com o tamanho da ectopia. Pode ser que você tenha uma pequena eversão e sinta sintomas que te levem a procurar um médico, assim como grandes podem estar convivendo contigo há anos, sem maiores problemas.

Entre as opções de curso de ação, uma das possibilidades é de o organismo reverter sozinho a situação. Outro é a cauterização, que é um procedimento simples que queima o epitélio (com calor, frio ou ácido), feito no próprio consultório e com 8 semanas de recuperação.

É preciso cuidado com super diagnósticos, especialmente pensando que a cauterização soluciona momentaneamente a condição, que pode acontecer novamente.

De qualquer modo, o acompanhamento profissional de seu médico de confiança é imprescindível para entender como lidar com a disfunção. Além dos fatores modificáveis (como o tabagismo), ele pode indicar o melhor anticoncepcional para o seu caso.

Fonte: Drª Maria Tereza Portela, Ginecologista CRM 17853 PR – RQE 12305