Dependência química: doença é caracterizada por conjunto de sintomas que pioram ao longo do tempo
A chance de você ter dentro de casa, entre pessoas próximas e/ou conhecidas dependentes químicos é grande. Nem sempre visível aos observadores externos, além de prejudicar o próprio dependente, o uso de substâncias influencia toda aquela família.
A Organização Mundial da Saúde define a dependência química como uma doença crônica e progressiva. Ou seja, ela se agrava ao longo do tempo e gera doenças secundárias, decorrentes do uso de drogas. Ainda no aspecto de definição, droga é toda e qualquer substância de fora do organismo que, ao ser ingerida, gera alteração no sistema nervoso central. E aqui estamos falando tanto das drogas lícitas – como álcool e medicamentos – quanto das ilícitas.
Não existem parâmetros de quantidade de consumo segura, sendo desde o primeiro uso prejudicial. “Quando falamos de ser humano, dois mais dois pode ser qualquer coisa. Não tem uma regra para seguir, onde cada um vai apresentar isso ou aquele sintoma. Também não existe maior ou menor dependência, mas falamos sobre quantas perdas a pessoa já teve na vida”, reforça a psicóloga Flávia Brum.
Por sua característica gradativa, com o passar do tempo a pessoa se prejudica cada vez mais. E o problema afeta as pessoas que o rodeiam, seja na escola, família, trabalho, igreja e demais.
Como diagnosticar a dependência
E como a gente sabe que o uso passou do recreativo para um vício? E tem como saber? Mas eu ainda consigo trabalhar todos os dias, com plena capacidade funcional, então não posso ser viciado! Essas e outras questões passam na cabeça daqueles que convivem com usuários, e nem sempre sabem como agir ou quando se preocupar.
Para começar –> é preciso estabelecer que a dependência é multicausal. Por isso, o diagnóstico acontece a partir de um conjunto de sintomas comportamentais, cognitivos e fisiológicos que estabelecem a partir do uso contínuo de drogas e álcool, apesar das consequências negativas relativas a este uso.
E é por isso que, apesar de saber que o fator genético/hereditário existe, não é por quê um dos pais é viciado que, necessariamente o filho será. Mas entender que, por outro lado, a experiência social influencia. Então, se a criança cresce em uma casa onde é normal o uso de bebida alcoólica ou entorpecentes, a tendência é de entender este como um comportamento normal.
Para diagnóstico clínico a pessoa precisa atender a alguns critérios estabelecidos (com um mínimo de 5, de um total de 8). Ou seja, não é porque você não se enquadra em um dos casos que não seja dependente.
Dentre eles, se destaca a tolerância: no início tomo 1 lata e tem efeito; depois de um tempo, para o mesmo efeito, preciso tomar 2; e assim sucessivamente. É quando o organismo se acostuma com a substância, ao ponto de precisar aumentar gradativamente a quantidade que ingere.
Outro destaque fica pela Síndrome de abstinência. Ao interromper o uso, são sentidos efeitos psicológicos e físicos. Também, abandono das atividades cotidianas: Meus programas e rotina passam a girar em torno do consumo da substância. Exemplo: antes eu ia nas festas e ter ou não bebida não fazia parte da deliberação; depois passo a frequentar apenas as que tem, se não não sinto graça…
Só quem vai poder estabelecer um diagnóstico de fato são o psicólogo e psiquiatra. Ele se dá em uma série de com consultas e com relatos tanto do próprio dependente quanto dos familiares.
Opções de tratamento
A dependência química tem diversas possibilidades de tratamento, que são determinadas pelo grau de prejuízo e características de adesão do próprio paciente.
Pode ser em consultório, com atendimento psicológico individual – que varia de acordo com a linha teórica do profissional. Também, funciona em grupos terapêuticos, na saúde privada, organizações sem fins lucrativos e na rede pública, com destaque para o Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas (CAPS AD). Este último oferece acompanhamento gratuito para qualquer um que assim deseje, sem necessidade de encaminhamento médico. Outra ação são os internamentos.
Em geral, a linha de ação inicia com tratamentos abertos, já que nos internamentos as pessoas tem abandono da vida cotidiana (trabalho, família e amigos), sem praticar sua vivência no mundo real.
Indiferente das abordagens terapêuticas, o acompanhamento é multiprofissional, com cuidado em várias áreas da vida. Uma figura que se destaca – além de psiquiatras e psicólogos – é o olhar do educador físico. No contexto de dependência, a prática de atividade física aparece como uma das maneiras de liberar substâncias naturais no organismo.
“É muito difícil de falar em cura. Eu encaro que poderíamos falar em cura se a pessoa pudesse, depois, sentar no barzinho e tomar uma cerveja sem medo de ativar a dependência química, e esta não é a realidade”, finaliza Flávia.
Fonte: Flávia Brum, psicóloga, CRP 18/00998