Uso excessivo de telas prejudica desenvolvimento infantil e interação entre famílias

As tecnologias e suas telas – seja no celular, tablet ou computador – vieram para ficar em nossas vidas e rotinas. Em época de pandemia, foram essenciais para aproximar as pessoas, estudar e trabalhar. E se forem inseridas moderadamente no cotidiano, são saudáveis e trazem benefícios. Por outro lado, seu uso excessivo pode prejudicar os indivíduos e convívio familiar.

Mas e como quantificar o que é um bom número de uso e o que é excesso? Apesar de existir indicativos que podem ser seguidos, a principal medida é o sentimento de quando a atividade está afetando a qualidade de vida. “Quando percebemos que está passando de um padrão, que está passando o meu limite, que não estou tendo minha qualidade de vida, preciso acender um alerta”, destaca a psicóloga Taís Alves. E ressalta: “nós enquanto adultos conseguimos perceber isto com mais facilidade. As crianças precisam ter os limites pautados pelos pais e responsáveis”.

            A questão não é demonizar a tecnologia ou proibi-la, e sim fazer um bom uso da mesma. O excesso de telas trazem consequências variadas. Fisicamente, afetam os olhos, tanto de crianças quanto de adultos. No aspecto emocional, diminui a interação real, afastando e alienando os indivíduos. Estes elementos podem levar a casos de ansiedade e depressão, por exemplo. As relações interpessoais na família ficam abaladas. Menos percebido, mas também importante, é afetar a autoestima, com uma sensação de inferioridade, por estarem cercados de realidades físicas e financeiras diferentes do que vivenciam na vida real.

            A dependência de telas já é um transtorno, como assinalado pelo psicólogo norte-americano Dr Aric Sigman, autor do artigo (2017) “Transtornos de dependência de tela: um novo desafio para a neurologia infantil”. Tanto é que hoje a abstinência de um dispositivo é utilizada como castigo pelos pais. Uma tendência que a psicóloga Taís aponta é de futuramente aumentar a procura por ajuda para “desintoxicar”, porque as pessoas em função de ainda estarem inseridas na pandemia não têm percebido os abusos de uso.

No caso de crianças e adolescentes, um parâmetro a ser observado para perceber o excesso ou não são mudanças de comportamento. Alguns exemplos: percebo que a criança está se retraindo; preferindo ficar fechada no quarto ao invés dos momentos de interação social; hábitos alimentares (se alimentando em demasia ou não comendo); padrões de sono (pais muitas vezes vão dormir e não observam que as crianças ficam acordados e distúrbios de sono, como trocar o dia pela noite). A escola pode ser aliada para identificar o problema, por sua presença no cotidiano das crianças.

            Quantificando uso de telas

            A psicóloga Taís Alves indica que além de estudos científicos, a quantidade de uso e seus impactos são particulares a cada realidade. Por isso, uma boa métrica é observar quando o excesso começa a prejudicar a qualidade de vida.

            Segundo pesquisadores estabeleceram dentro de um padrão avaliado tecnicamente por pediatras, não é aconselhável ou necessário o uso de nenhum tipo de telas para crianças até 2 anos. Conforme o avanço da idade, aumenta a possibilidade do número de horas. De 2 a 5 anos, há permissão de 1 hora de uso diário. Dos 6 aos 10 anos, 2 horas. Dos 11 aos 18, chega-se há 3 horas.

            Esta é uma média padrão, mas não obrigatória. É um máximo recomendado para não trazer consequências para a vida das crianças e adolescentes. Para os adultos, as 3 horas permanecem como um guia, porém, é preciso entender cada realidade, afinal, alguns trabalhos demandam que o profissional use durante toda a jornada de trabalho o computador. No entanto, o cansaço trazido por ficar em frente às telas também (mesmo que no trabalho) é sentido no organismo.

Outro ponto válido é entender que crianças e adolescentes não tem maturidade para fazerem uso indiscriminado das tecnologias sem supervisão. Pais e responsáveis precisam acompanhar com quem esta criança conversa, o que assiste, o que acessa, no que interage e quanto interage.

“Muitos não percebem que isto está virando um problema. Cônjuges notam o abuso, mas tem sido levado com um tom de brincadeira: a minha esposa não sai do celular. Por quê? Porque está se tornando algo natural”, diz a psicóloga Taís. Lembra ainda que um dos gatilhos a serem observados é a inteligência artificial usada em sites, apps e mecanismos de busca, que conectam um conteúdo ao outro e permitem ao usuário “perder a noção do tempo”, permanecendo horas consecutivas assistindo aos conteúdos. E fica a dica da profissional: em todo excesso existe uma falta: por que eu tenho tido este excesso na minha vida? O que está faltando dentro de mim?

             E tem como reverter a situação?

            Tem sim. E o primeiro passo é conseguir perceber que existe um problema. Pais e responsáveis precisam retomar o controle e assumir a responsabilidade que compete à sua função. Parte de assumir o controle é conhecer seu filho, seus gostos e personalidade e se comunicar.

Quando o alerta acende é importante buscar ajuda profissional no auxílio de pais e responsáveis em uma transição saudável para menos tempo em frente às telas. A diminuição precisa ser gradual, para ser saudável e não-traumática. Aos poucos, deve ser substituído o tempo em frente ao computador pelas atividades que geram prazer, como andar de bicicleta, ler um livro, andar de bicicleta, jogos de tabuleiro, conversar com os avós, desenhar.

E uma coisa é certa: nada substitui estar junto e as interações pessoais. Cabe aos pais estabelecer limites aos filhos, e nos caso dos adultos, terem autoconhecimento e buscarem outros pontos de entretenimento.

Fontes: Taís Alves, Psicóloga CRP 08/17894

Artigo “Transtornos de dependência de tela: um novo desafio para a neurologia infantil”, do Dr Aric Sigman