Disfagia se caracteriza como dificuldade de engolir; entenda como identificá-la

Sabe quando a comida vai ‘pelo canal’ errado? Ou ainda aquele dia que no meio da refeição você acaba tossindo e pigarreando? Quando são ocorrências pontuais, está tudo certo. Mas se você observar que a frequência tem aumentado, pode ser sinal de disfagia.

Trocando em miúdos, a disfagia é caracterizada pela dificuldade de engolir. Ou seja, de levar o alimento da boca até o estômago, que pode aparecer desde o bebê até a pessoa idosa. Essa dificuldade pode se apresentar nas diferentes etapas do caminho que a comida faz até chegar no estômago – fase oral, faríngea e esofágica. 

Ela  se classifica em leve, moderada e severa, sendo que a gravidade está diretamente ligada ao que se pode ou não comer. Os casos graves, por exemplo, em geral não podem engolir o alimento sob o risco de broncoaspirar (que é o popular ‘entrar pelo lugar errado’, no caso as vias respiratórias). Nos casos leves, pode até mesmo passar despercebida. É aquilo: a pessoa se adapta. Percebe que comendo determinado alimento os engasgos são mais frequentes e passa a optar por texturas – como purês – que funcionam para ela. Faz uso do copo de água depois de cada mordida e pigarra bastante. 

Porém, se não tratada, ela tende a evoluir e limitar o dia a dia. “No cotidiano, muitas vezes a pessoa nem percebe e acaba se adaptando. Existe uma dificuldade de reconhecer como disfagia, de que é uma condição e que pode ser melhorada. A piora da qualidade de vida acentuada aparece a partir da moderada. Por isso, é importante buscar tratamento assim que se diagnostica, para retardar piora do quadro”, explica a fonoaudióloga Cíntia Cenovicz.

Casos mais comuns

A disfagia se apresenta de modo mais frequente através de doenças: pós acidente vascular cerebral; após-cirurgia de cabeça e pescoço (inclusive disfagia mecânica, por falta de alguma parte); e disfagia neurológica. 

No dia a dia, o envelhecimento também se relaciona com a disfagia. Devido à flacidez natural da musculatura e mesmo perda de massa muscular, a dificuldade de engolir aparece. É relevante ficar atento à ela, principalmente porque pode ser um sintoma de outras doenças. 

Em todos os casos, existe tratamento para superá-la ou melhorar suas condições. Pensando na parte oro-faríngea, o profissional que conduz este tratamento é o fonoaudiólogo. Com o acompanhamento, ele vai ajudar nas consistências alimentares (segundo classificação padrão mundial), indicar volumes das colheradas, utensílios, como deve se comportar e até mesmo a postura durante a alimentação.

Tratamento fonoaudiológico

A primeira consulta é com anamnese completa do paciente, onde se detalha todos os sintomas e avalia a deglutição – inclusive com auxílio de equipamentos e softwares, observando todas as estruturas envolvidas. Quando necessário, pede-se exames instrumentais. Diante da avaliação clínica há o entendimento do processo e do que está errado, quando se estabelece o plano de tratamento, com objetivos e metas. 

Cada caso é individual, mas em geral o paciente precisa visitar o fonoaudiólogo de 1 a 2 vezes por semana, complementando com exercícios orientados para serem feitos em casa. Um passo importante é o recordatório alimentar, para identificar com o quê continua ou não se afogando. 

No consultório serão feitos exercícios musculares de língua, lábio, sopro, movimentação de úvula, para força, mobilidade, amplitude de movimento, pregas vocais, dentre outros. Junto com os exercícios podem ser empregados recursos terapêuticos como aplicação de laser e eletroterapia. 

“Quando a patologia permite, geralmente a melhora é rápida. A satisfação é maravilhosa de ver a recuperação dos pacientes, ver a melhora na qualidade de vida. Mesmo que não consiga restabelecer o que teve a vida toda, podemos apresentar uma nova forma de comer e encarar o momento da alimentação. É um ensinar a olhar de forma diferente”, reforça a fonoaudióloga Cíntia. Nos casos de doenças instaladas, o trabalho é feito de modo multidisciplinar, com envolvimento da família e demais profissionais. 

Fonte: Cíntia Cenovicz, fonoaudióloga