Qual é a importância de um bom instrumento de pesquisa? Toda!

Conheça a pesquisa desenvolvida com um questionário online sobre comportamentos relacionados à saúde

Quando falamos em dados científicos, estes devem ser verificados, validados e reproduzidos. Ou seja, qualquer pessoa que fizer a mesma pesquisa, sob aquelas condições, podem alcançar resultados similares. É por isso que sabemos quando um remédio é eficiente, ou que determinada técnica na fisioterapia funciona para minimizar as dores na coluna, por exemplo. E, foi por meio de um trabalho minucioso de construção e validação de um questionário online desenvolvido pela Profa. Dra. Rosimeide Francisco Legnani que ela consegue desenvolver diversas pesquisas com crianças e adolescentes nas idades entre 09 a 18 anos.

            Este instrumento recebe o nome de WebCas, o qual avalia os comportamentos ativos e saudáveis, como – hábitos alimentares e de sono, prática de atividade física e esporte, consequentemente, consegue verificar o gasto energético (calorias) diário. Além disso, o WebCas, também, verifica os comportamentos de risco – uso de drogas lícitas e ilícitas.

            O WebCas é composto por perguntas de múltipla escolha e perguntas abertas, podem ser realizados em estudos epidemiológicos, ou ainda, de intervenção com crianças e adolescentes. Este instrumento já foi utilizado mais de 5000 vezes, está hospedado no site (www.legnaniwebcas.com.br).

            Além dos objetivos já citados questionário consegue avaliar os jovens de forma completa, pode ser utilizado em tempo real por várias pessoas em diferentes localidades, há uma economia, porque dispensa as impressões, logo, preserva o meio ambiente, menos árvores derrubadas no planeta! Agiliza o trabalho dos pesquisadores, porque não há necessidade da digitação dos dados, eles são transportados automaticamente em uma planilha do Excel.  

            A professora ressalta que um “dos sonhos com o WebCas é que ele seja utilizado em estudo epidemiológico, inicialmente em nível estadual, para compreender e mapear os comportamentos das crianças e adolescentes, visando evitar futuros problemas, especialmente com a obesidade e envolvimento com drogas”. Na sequência, os órgãos públicos o utilizem para realizar intervenções específicas para trabalhar com uma verdadeira educação voltada à saúde e estimular os hábitos saudáveis entre essa população.

            Como o questionário foi criado

            Para chegar ao estágio atual com as devidas validações e ser utilizado como instrumento confiável de pesquisa, o WebCas passou por 8 etapas, desenvolvidas durante a pesquisa de doutorado da professora.  

            A primeira fase foi a construção de perguntas, no formato impresso, a partir de um estudo bibliográfico que fez o levantamento do que já existia na literatura, composto também de perguntas de outros questionários já validados. A versão no papel foi aplicada para compreender o entendimento das pessoas em relação ao que se pretendia pesquisar. A segunda fase foi de validação do conteúdo, junto com professores do ensino fundamental e médio que atuam com esta faixa etária, sendo que uma das sugestões foram as inclusões das ilustrações.

            A terceira fase foi composta por testes e retestes, participaram 142 alunos de ambos os sexos, que responderam a versão impressa, e depois de 7 dias responderam as mesmas questões, para verificar a reprodutibilidade dos resultados. Na quarta fase, utilizaram a metodologia de estudo de grupo focal, com a participação de 24 alunos e 6 professores, de ambos os sexos, para verificar o entendimento e sugestões de melhora para a construção da versão online.     

            A professora relatou – “Nesta fase, uma das coisas chamou muita atenção, foram as respostas de questões relacionadas ao consumo de álcool. Algumas crianças com apenas 9 anos de idade relataram que já ficaram bêbadas” A partir dos relatos de comportamento precoce, foram incluídas questões de drogas ilícitas, por exemplo.

            A quinta fase foi a transposição da versão impressa para a eletrônica (online), esta fase contou com um profissional da area da tecnologia da informação e um estatístico. Na sexta etapa, começaram os procedimentos de validação e concordância entre uma versão e outra, com participação de 152 crianças e adolescentes. Já o próximo passo foi de validação de reprodutibilidade do questionário, com aplicação em outros 152 estudantes que responderam primeiro a versão impressa e depois de 7 dias, a versão online. Com dados estatisticamente significativos, chegou enfim a hora da última fase.

            A 8ª etapa teve o foco de determinar o gasto energético diário de cada indivíduo. Foram computadas todas as atividades físicas, que, por definição, é tudo que tem gasto calórico acima dos níveis de repouso. Para isso, cada  participante teve que relatar o que faziam a cada 15 minutos, cabendo aos pesquisadores determinar os gastos energéticos de cada atividade. Para colaborar na assertividade das respostas, usaram durante 7 dias o acelerômetro – é um equipamento que mede todos os movimentos corporais da pessoa e estima o gasto calórico diário, considerado uma medida conhecida como padrão ouro.

            Uso da ferramenta

            Com a ferramenta finalizada e validada são muitas as possibilidades de uso. Como é composto por perguntas variadas, pode se adequar a diferentes usos dentro da pesquisa continuada desenvolvida pela Professora Legnani. Por exemplo: uma pesquisa pode querer entender a relação de hábitos de alimentação e nível de sedentarismo, para isso, aplica o questionário em duas escolas específicas, em alunos do ensino médio. Ou, para compreender o comportamento alimentar em atletas juvenis, é aplicado entre os atletas de Ponta Grossa.

“Nosso principal legado alcançado é investigar os comportamentos de forma precoce: investigar, analisar e identificar os comportamentos de crianças e adolescentes e ter estes dados palpáveis, para entender o que é possível fazer por esta parcela que está tendo comportamento inadequado, o que a escola pode fazer e qual intervenção é possível”, salienta Legnani.

Fonte: Professora Doutora Rosimeide Francisco Legnani

Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG.

Alunos envolvidos:

Já foram desenvolvidos 4 Trabalhos de Conclusão de Curso, 2 Iniciações Científicas e 3 dissertações de Mestrado