Terapia da Integração Sensorial de Ayres é uma aliada para crianças no espectro autista
Pessoas diagnosticadas dentro do espectro autista, em geral, precisam ter o suporte de uma equipe multiprofissional. Esta equipe trabalha a autonomia e desenvolvimento do indivíduo, cada um dentro dos limites de sua área. Uma das terapias aliadas para lidar com a síndrome é a Terapia da Integração Sensorial de Ayres (TIS), uma abordagem dos Terapeutas Ocupacionais.
No documento “Evidence – Based Practices for Children, Youth, and Young adults with Autism 2020”, do renomado “The National Clearinghouse on Autism Evidence & Practice”, ela está presente como uma das terapias validadas e comprovadas cientificamente para o autismo. Desde 2017 já era recomendada e, no último ano, foi validada.
Com isso estabelecido, a TIS se torna uma opção nos casos em que apresentam transtornos no processamento sensorial – que é uma dificuldade neurofisiológica. Sabe-se que dentro do autismo algumas áreas cerebrais funcionam estruturalmente de modo diferente, o que impacta neste processamento e na resposta do organismo frente aos estímulos.
“Vem-se usando e percebendo como a Terapia da Integração Sensorial de Ayres otimiza a forma que este cérebro funciona. E neste sentido ela é um divisor de águas. Ajuda crianças que são hipersensíveis ou com uma questão de modulação importante, conseguindo ter um ajuste no sistema de alerta e atenção”, explica a terapeuta ocupacional Gabrielle Grube.
A TIS é indicada para a grande maioria dos indivíduos no espectro autista, hoje sabe-se que cerca de 95% das pessoas com autismo apresentam algum transtorno de processamento sensorial. A abordagem ajuda a criança a autorregular a sobrecarga de estímulos do ambiente, para conseguir manter alerta e atenção suficientes na realização de suas atividades cotidianas. De acordo com a individualidade de cada um, para isso é feita uma avaliação em que são definidos objetivos e metas concretas para o caso.
Como o acompanhando das pessoas no espectro autista é multiprofissional, o relatório da avaliação é compartilhado com a família, para que conduza aos demais profissionais envolvidos e que, juntos, tracem as melhores estratégias o melhor desempenho da criança.
Principais questões trabalhadas
Com este público, uma característica comum é a dificuldade de ideação. A ideação é como a criança capta o que tem de possibilidades no ambiente e explora o seu brincar, a partir do que está a disposição. É assim: eu vejo uma bola. Eu posso chutá-la, usá-la como boneco, transformar num foguete, colocar no ninho como um ovo. Preciso me movimentar de tal forma para pegá-la, para jogá-la. Ou seja, a dificuldade na ideação é uma baixa capacidade do cérebro em organizar informações que estão chegando e dar uma resposta motora para realizar no ambiente, imaginando todas estas possiblidades.
Outro ponto bastante presente é hipersensibilidade tátil, que pode refletir em não aceitar roupas, ao se incomodar com etiquetas e impacto na alimentação, por exemplo. Num geral, durante a terapia são ofertados através de brincadeiras diversos estímulos. “São brincadeiras recheadas de estímulos táteis, vestibulares, proprioceptivos de forma combinada, que suscitam respostas adaptativas cada vez mais complexas nas brincadeiras propostas” descreve Gabrielle.
Um dos reflexos da TIS é no entendimento das famílias frente a aspectos que antes eram entendidos como puramente comportamentais e passam a ser entendidos como neurofisiológicos também. Assim, família e equipe entendem com mais clareza o que acontece no cérebro daquela criança e recebem ferramentas para o manejo de questões do dia-a-dia.
Fonte: Grabrielle Grube, terapeuta ocupacional