Pesquisa encontra presença de pesticidas proibidos em cigarros contrabandeados
Fumar faz mal a saúde? Com certeza! E se o cigarro for de procedência duvidosa? Bem, aí além dos problemas que o hábito já traz, acrescente o fato de estar ingerindo um roll de substâncias desconhecidas. Para entender melhor o que está nestes cigarros e o que fazer quando são apreendidos é que o Professor Sandro e a aluna de Doutorado Cinthia vêm pesquisando e criando metodologias.
Hoje os números apontam que, no Brasil, são cerca de 20 milhões de fumantes, o que dá 10% da população acima de 18 anos. A Receita Federal estima que deste montante, em 2020, 49% fazia uso de cigarros contrabandeados. Ou seja, metade do uso é de produtos apreendidos que não passam por fiscalização ou controle de qualidade, resultando em maior quantidadede contaminantes.
“Com a pesquisa, conseguimos chegar a um método simplificado para determinar os compostos. Trouxemos dados novos com resultados que provam que os cigarros contrabandeados são mais tóxicos, com mais substâncias perigosas, com potencial de serem mais prejudicais a saúde”, conta o ProfDr Sandro Xavier de Campos, do Departamento de Química.
Os resultados demonstram e reforçam como o produto ilegal é mais prejudicial e, também, podem ser usados para novas políticas de saúde pública. A maior consciência da sociedade tem potencial para impactar e diminuir o consumo.
Como surgiu a ideia da pesquisa
Os cigarros são campões em números de apreensão pela Receita Federal. Segundo dados do órgão, o montante chega a 400 milhões em apenas um semestre. A sua destinação padrão é a incineração. Pensando em novos usos e tratamento para o material, em 2012 eles entraram em contato com o Grupo de Química Analítica Ambiental e Sanitária ( QAAS/UEPG), o qual o professor Sandro é o coordenador.
Desde então o grupo desenvolve pesquisas para entender a composição destes cigarros e usos alternativos para descarte. Como não são legalizados ou passam por processos de qualidade, não é possível saber o está lá dentro. Ao longo de 10 anos, por exemplo, já teve pesquisa que determinou a presença acima do normal de contaminação por metais pesados – 11 vezes a quantidade de chumbo; 4 vezes de cádmio, níquel, zinco e mesmo arsênico. Também encontraram plástico, fungos e restos de insetos.
Pensando nisso, o foco da pesquisa “Desenvolvimento de metodologia de agrotóxicos organoclorados em cigarros contrabandeados” se debruçou em detectar se haveria também essas substâncias que tem seu uso proibido a mais de uma década no Brasil.
Formato e metodologia
Foram estudadas 18 marcas de cigarros apreendidos pela Receita Federal, buscando maior representatividade. Em um primeiro momento foi determinada a quantidade de nicotina presente. Depois foi estudada a presença de 14 diferentes tipos de agrotóxicos organoclorados.
Os pesticidas são classificados como poluentes orgânicos persistentes, que quando jogados na natureza ficam estabilizados e continuam contaminando por longo período de tempo. Dentre eles, aparecem alguns tipos que há mais de 15 anos são proibidos no Brasil. Nestes casos, os problemas para a saúde e meio ambiente aparecem com a exposição contínua às substâncias nocivas em longo prazo.
?Grosso modo, os procedimentos funcionaram assim: de cada marca eram pegas 10 carteiras de cigarro e destas carteiras foram retirados aleatoriamente 1 unidade de cada. Com exceção do papel e do filtro, o tabaco das 10 unidades eram misturados e o montante foi exposto a várias etapas, com solventes específicos. No final o resultado extraído é colocado no cromatógrafo (um aparelho específico), que dá sinais quando da presença de cada composto.
Foi assim que foram detectadas a presença e quantidade dos pesticidas proibidos, que, em termos técnicos, são organoclorados poluentes orgânicos persistentes. No primeiro ciclo o foco foi a detecção e entendimento de quais substâncias estavam ali presentes.
Depois, a ideia é propor como uma das maneiras de utilização do material contrabandeado a compostagem. Misturando o cigarro com restos de comida e serragem, a degradação dos agrotóxicos permitiria o uso como fertilizante sem efeito nocivo às plantas, e consequentemente, para o consumo humano.
Para isso é preciso seguir regras estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, bem como regulações internacionais.
Fonte: Prof Dr Sandro Xavier de Campos, Universidade Estadual de Ponta Grossa
Aluna de Doutorado em Química Cinthia Eloise Domingues, Universidade Estadual de Ponta Grossa